A CUFA - Central Única das Favelas vem tornar público que entrou com uma representação junto ao Ministério Público de São Paulo solicitando instalação de inquérito por conta das declarações proferidas, em rede nacional pelo Srº Gerge Samuel Antoine, cônsul geral do Haiti em são Paulo. Nesta mesma data informamos que estamos apresentando noticia crime nos seguintes órgãos: Embaixada do Haiti - Ministério da Justiça - Ministério de Relações Exteriores - Seppir - Secretaria Especial de Politicas de promoção para Igualdade racial - Direitos Humanos - Secretaria Nacional de Segurança - Presidência da Republica - Casa civil.
Segue documento:
EXMO. SR. PROMOTOR DE JUSTIÇA DO MINISTÉRIO PUBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO
A Central Única das Favelas- CUFA DO BRASIL, vem apresentar notícia-crime contra Gerge Samuel Antoine, cônsul geral do Haiti em São Paulo, esperando sejam averiguados os fatos a seguir narrados e, eventualmente, instaurada a competente ação penal pública incondicionada.
O cônsul do Haiti em São Paulo, Gerge Samuel Antoine, apareceu em reportagem exibida na noite da última quarta-feira, dia 13 de janeiro, no programa de televisão "SBT Brasil", exibido em rede nacional, dizendo que o recente terremoto que atingiu o Haiti, causando imensa destruição e morte de milhares de pessoas, estaria "sendo bom" para seu trabalho e que a tragédia poderia ter ocorrido por causa da religião praticada por boa parte dos haitianos, descendentes de africanos, os quais são qualificados como amaldiçoados.
Nos termos do vídeo que acompanha esta notícia-crime, o cônsul afirmou: "A desgraça de lá está sendo uma boa pra gente aqui, fica conhecido. Acho que de, tanto mexer com macumba, não sei o que é aquilo... O africano em si tem maldição. Todo lugar que tem africano lá tá fudido." http://audienciadatv.wordpress.com/2010/01/15/video-jornalismo-do-sbt-denuncia-consul-haitiano-preconceituoso/
Diante disso, a CUFA - Central Única das Favelas, entidade representativa em todo território nacional e com bases internacionais, considerando 1) a eventual prática de crimes de preconceito racial e religioso, tipificados no artigo 20, da Lei 7.716, de 05 de janeiro de 1989; 2) considerando ainda que a ocupação de cargo de cônsul honorário não gera imunidade diplomática; e 3) considerando que a prática do eventual crime teria se dado em rede nacional de televisão; vem requerer a instauração de inquérito para averiguação dos fatos narrados e, eventualmente constatada a prática de crime, instauração da competente ação penal pública incondicionada.
São Paulo , 20 de janeiro de 2010.
Central Única das Favelas do Brasil - CUFA
Danilo Bittencourt - BA - Presidente
KALINE LIMA - PB - vice – presidente
PRETO ZEZE - CE – articulador nacional
DINORA RODRIGUES - RS - conselheira
MV BILL - RJ - presidente de Honra
KARINA SANTIAGO - MT - Direção Nacional
NEGA GIZZA - Coordenação Rio de Janeiro
ANNA SABBAGG - Coordenação - SP
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Moção de repudio
Historicamente todos os símbolos que traduzem a herança africana foram usurpados, relegados à condição de subalternidade e negados do processo de contribuição da formação da cultura brasileira, a exemplo disso citamos a religião. Homens e mulheres tiveram que criar formas de resistência e camuflar sua fé, originando ao que conhecemos como sincretismo religioso. Pois bem, o bonde da história se movimenta e hoje seguidores e seguidoras das religiões de matriz africana em todo país, engrossam as fileiras da luta contra a intolerância religiosa, se pautando inclusive na Constituição brasileira, quando garante a liberdade de culto. É preciso rememorar que a perseguição religiosa culmina em várias formas de violência, ferindo os direitos da pessoa humana.
Neste contexto de releituras e circularidade cultural, surge o inaceitável, duras manifestações de preconceito a cultura africana na diáspora conjugada a requinte de crueldade de colarinho branco. Tudo traduzido no nefasto comentário do cônsul geral do Haiti em São Paulo, o Srº Gerge Samuel Antoine, que em meio à comoção mundial pelo duro golpe que a natureza deu no Haiti e que arrasou vidas, repartiu famílias e dilacerou o resquício de esperança do povo haitiano, disse "A desgraça de lá está sendo uma boa pra gente aqui, fica conhecido. Acho que de, tanto mexer com macumba, não sei o que é aquilo... O africano em si tem maldição. Todo lugar que tem africano lá tá f..." (fonte: SBT Brasil)
Num momento em que o mundo volta sua solidariedade para o povo do Haiti, os negros do Haiti, deve ser repugnada qualquer manifestação de racismo, preconceito e ódio à cultura religiosa de matriz africana, extensível a todos os brasileiros. Assim, a infeliz manifestação do cônsul não pode ser desculpada, e se for pelo governo brasileiro, não o será em nome dos mais diversos movimentos sociais nacionais, notadamente porque entendemos que esse pedido de desculpas se dá pelo fato do seu pensamento ter se tornado público, nada mais. Ter em nossas terras um homem que semeia o desamor e o oportunismo selvagem, sobretudo, num momento de dor, é como cultivar um câncer em nosso país. Não basta ter que conviver com os nossos racistas ainda vamos ter de nos omitir sobre essa reprovável manifestação de racismo?Até quando vamos ter que conviver com o mito da igualdade racial e as várias facetas que o preconceito apresenta?
Neste sentido a CUFA - Central Única das Favelas, entidade representativa em todo território nacional e com bases internacionais (Alemanha, Argentina, Áustria, Bolívia, Chile, Colômbia, Espanha, Hungria, Itália, Paraguai, Portugal, USA e Angola), vem por meio dessa moção solicitar ao governo brasileiro que encaminhe esse senhor a acalmar todo seu sentimento em outras terras e que assim seja imediatamente convidado a deixar essa casa nação brasileira, bem como, o afastamento imediato do cargo que ocupa, por ser incompatível com suas convicções racistas, desumanas e contrária a cultura da paz. É preciso que as instâncias de poder se posicionem e intervenham, como símbolo de respeito aos nossos irmãos e irmãs haitianas, à dignidade do povo brasileiro e como resposta as agressões proferidas à cultura advinda de África, pois somos parte dela mesmo que neguem.
Por fim, nos negros e não negros brasileiros e brasileiras afirmamos que não temos nenhuma maldição e como tal desejamos a ele toda a sorte e felicidade do mundo em outra missão que não seja a de representar os negros do Haiti em território brasileiro. E se ainda assim o Srº Gerge Samuel Antoine continuar como referência do povo do Haiti no Brasil então deveremos reconhecer que realmente somos um povo amaldiçoado.
CUFA - Central Única das Favelas
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