quarta-feira, 24 de abril de 2019

Coordenador da CUFA fez uso da tribuna na Câmara Municipal

por Laura Alvarenga
O coordenador geral da CUFA (Central Única das Favelas) de Araguari, Agnaldo da Silva – Zulu, fez uso da tribuna na Câmara Municipal dos Vereadores na manhã desta terça-feira, 23. Após realizar a inscrição ainda no ano passado, Zulu foi chamado pelos vereadores para expor o trabalho da Central.

A CUFA é uma entidade não governamental com sede no Rio de Janeiro. Hoje está presente em 300 cidades brasileiras e em outros 17 países que visam a integração social através do esporte, cultura, educação e lazer. A Central realiza o atendimento de crianças e jovens em situação de vulnerabilidade social por meio de oficinas culturais desportivas, além de apresentações em eventos.
Todo o trabalho é executado por jovens egressos da própria instituição e alguns voluntários no Centro de Referência Negra “Rainha Benedita”, um espaço cedido como sede da CUFA em Araguari pela Faec (Fundação Araguarina de Educação e Cultura).
O intuito é promover a integração social de comunidades menos privilegiadas com a realização de eventos culturais, esportivos e educativos, buscando se tornar uma ONG referência em Araguari ao atingir maior número de atendimentos no município.
De acordo com o coordenador geral da CUFA, Zulu, a ida à tribuna da Câmara Municipal teve por objetivo manter a parceria com o Legislativo que sempre se mantém unânime na aprovação de projetos referentes à entidade. Segundo ele, o Legislativo foi de suma importância para a criação do ‘Dia Municipal de Luta Contra a Discriminação Racial’, a lei de criação da Superintendência, Conselho e Fundo de Promoção da Igualdade Racial, termo de fomento, bem como várias outras ações apresentadas aos vereadores de Araguari.
Zulu destaca, ainda, a importância de a população entender o exercício dos três poderes e espera apresentar um projeto de colaboração com a Escola do Legislativo. “É importante a população entender o que é o Legislativo e, que o papel do vereador é apresentar e votar leis e não pagar o gás ou a conta de luz das pessoas. Muitos confundem o Legislativo com o Executivo e, creio que podemos ajudar a capacitar esse público para que possam entender o real papel do vereador — legislar e fiscalizar.”
Projetos
A CUFA espera realizar um projeto em parceria com a prefeitura por meio da Faec, Câmara Municipal, TV Integração e escolas da comunidade. O projeto é voltado à realização de cinco edições do Projeto Ruas, Cultura e Movimento; ministrar quatro oficinas gratuitas, fechando com um festival de apresentação destes resultados. Espera-se também, realizar uma competição de futsal, desfile de beleza negra, entrega do Prêmio Destaque Negro e um encontro de capoeira com todos os grupos da cidade.
O objetivo destas ações se baseia nos altos índices de criminalidade, visando buscar a cultura de paz; harmonizada com ações empreendidas, além de oferecer atendimento à comunidade onde a administração municipal por vezes não consegue chegar. Para a execução do projeto, caso seja aprovado, espera-se conseguir uma verba no valor de R$ 40 mil que serão destinados em melhorias no atendimento prestado aos usuários das oficinas oferecidas, possibilitando cachê e, fortalecendo o setor cultural nas apresentações das ruas de lazer, além de disponibilizar um serviço de qualidade à comunidade.

segunda-feira, 22 de abril de 2019

Flamengo veta expressão 'Festa na favela' de suas redes sociais: 'É associado à violência'

“FESTA NA FAVELA SIM “




Venho muito respeitosamente me manifestar diante do posicionamento confuso do Clube de Regatas do Flamengo, em matéria publicada na edição deste sábado do jornal Extra.
Por esta nota desejamos que o clube e sua agência de marketing refletiam sobre a favela . Vivemos num Brasil plural, onde a expressão “FAVELA” é associada à violência apenas por pessoas e empresas preconceituosas. Há muito tempo, muitas instituições, de todos os tamanhos, posições e setores, inclusive a Nação Rubro-Negra, ressignificaram essa expressão. E, hoje, ela é sinônimo de raiz, luta, resiliência, arte , cultura, decência, trabalho, entre outras potencialidades presentes nesses territórios.
Curioso que a história do Flamengo tenha sido construída e se tornado tão marcante justamente pelas imagens dessas pessoas, moradoras das favelas, que renunciavam muitas vezes as suas refeições para ocupar a geral do Maracanã, para reverenciar e construir a história de glória dessa Nação Rubro-Negra. Não, favela não é sinônimo de violência, como teria dito um funcionário do clube, em uma conversa com seus colegas de departamento, ao justificar a recomendação de evitar o uso da expressão “FAVELA” nas postagens nas redes sociais do clube.
Onde essa agência vê carência, vê associação à violência, com seu olhar embaçado por preconceito, nós vemos potência! Onde essa agência vê depressão, nós vemos ternura! Onde essa agência vê sorrisos muitas vezes desdentados, nós vemos explosão de alegria. O carnaval faz tempo que excluiu a presença dos negros e favelados nos seus tapetes, exceto para empurrar carros alegóricos. O futebol, com suas arenas caríssimas, seguiu o mesmo caminho e deixou seus geraldinos do lado de fora. Muitas vezes, nem pela TV podem acompanhar seu time, pois até pra isso precisa pagar hoje em dia.
Mas é importante que a diretoria rubro-negra e a agência que vocês contrataram saibam que vocês passarão pela vida do Flamengo, mas nunca serão tão decisivos quanto a favela em sua história. Vocês podem tentar tirar o Flamengo da favela, mas jamais irão tirar a Favela do Flamengo.
Não sou flamenguista, sou torcedor do Bangu, que se não tem os títulos em campo como o Flamengo, ostenta o título vitalício de primeiro clube do Rio a aceitar negros em suas fileiras. Mas não falo como negro, como favelado, falo como um cidadão brasileiro, que não quer ver mais as pessoas separadas por muros e termos excludentes. Sonho com um mundo onde todos joguemos no mesmo time: negros, brancos, índios, flamenguistas, vascaínos, ricos, pobres, moradores dos palácios e das favelas.
Espero que revejam essa postura equivocada, não culpando quem a divulgou. Mas agindo em cada um que ainda enxerga na favela uma associação à violência. E, se insistirem com essa mentalidade, espero que a Nação Rubro-Negra funde outra nação, tão forte quanto essa que criaram e deram identidade com muita raça, amor e paixão.
Flamengo, se orgulhe da sua nação assim como ela sempre se orgulhou de você. Não demita esse profissional e nem troque de agência. Apenas os reeduque e peça para que estudem a história da favela e a história do Flamengo.
Viva o Flamengo!
Viva a favela!
Celso Athayde é fundador da Cufa e Ceo da Favela Holding