Fico estarrecido com o rumo que tomou o debate sobre produção cultural no Brasil. Os pesados ataques dos neocons a Lula são nitidamente direcionados para barbarizar as relações simbólicas do povo brasileiro com as suas manifestações culturais.
Ainda hoje li o que disse Saramago, que “temos que nos preparar para enfrentar o ódio e a sede de vingança que os fascistas estão alimentando”. Destacando o crescimento das forças ultra-conservadoras e reacionárias na Europa.
Emir Sader em seu texto (Sapatos ou Sandálias) descreve o ódio da elite econômica latino-americana contra os povos nativos.
“Melhor um mafioso de sapato que um ignorante de sandália.” O comentário preconceituoso foi feito por uma mulher branca, no vôo de Santa Cruz de la Sierra a Cochabamba. Dá uma idéia do sentimento dessa minoria branca, que sempre governou a Bolívia, durante séculos, ao sentir que o país tinha sido expropriado pelas mãos da grande maioria de povos indígenas. (Emir Sader)
A feira livre dos bárbaros nobres
No mercado brasileiro surgiram os intelectuais de aluguel. “Especialistas” em qualquer coisa que sirva de argumentação para sustentar os pensamentos mais reacionários estão sendo fretados pelos milionários, uma espécie de praça de aluguel de uma “independência fisiológica” que já caiu, há muito, na esbórnia consumista. E são eles que exibem, no velho truque de espelhos, a imagem da meritocracia palavra adorada pelos filhos dos barões famintos que, ao verem a possibilidade de transformar incentivo cultural em ouro em pó, mergulharam no universo da cultura.
Há um exército desses mortos-vivos marchando com o pé direito e com o ritmo bem marcado pelo bumbo rumo ao ambiente da cultura brasileira. Na frente dos comandados segue o estandarte do dólar, um desfile totalitarista que invadiu quase todos os espaços da cultura institucionalizada do setor privado para, de imediato, arrecadar fortunas, expulsar pessoas sérias e impor seus assentamentos na base da pressa, da agressão e do constrangimento.
Tudo isso por uma única e cínica razão, o ódio de quem não alimenta o ódio. O ataque da Fox a Obama segue a mesma cantilena. Acusado de comunista pela grande rede americana, Obama sente o peso da dobradinha racista dos ultra-conservadores da Europa/Estados Unidos.
No Brasil, fica claro que os ataques feitos a Lula são, na verdade, ao povo pobre brasileiro, a crianças, mulheres, doentes, idosos, negros, nordestinos, favelados, índios etc. Este Brasil sofrido e deserdado pelo mesmo pensamento ancestral de domínio, de imposição, de brutalidade, de cangaço e coronelismo, tão bem representado pela nossa neo-oligarquia patriarcal.
Há, pelo menos, trinta anos atrás, nós artistas e produtores de várias áreas da cultura sonhávamos juntos em mesas de bares, esquinas praças e palcos um país. A miséria e a fome do povo brasileiro, a ditadura militar apoiada pela elite econômica era tema central da arte critica e de resistência às feridas sociais do país nos debates e produções daquele período, eram reflexos dos compromissos de artistas com o país.
Hoje aquele sonho foi reduzido a uma sala (vala comum) de reuniões e, como disse Chico Buarque em seu samba “Vai Passar”, “Dormia a nossa pátria mãe tão distraída sem perceber que era subtraída em tenebrosas transações”.
A imagem da corporatocracia, do veneno da ambição reduziu o ambiente cultural à imagem do homem níquel, ao que se referiu Mário de Andrade em seu poema “Ode ao Burguês” na Semana de Arte Moderna.
Toda a estupidez produzida pela ambição, pelo rancor, pelo ódio que se pode produzir contra um povo é a principal matéria-prima de ascensão nos meios conveniados, interconectados, transnacionalizados do pensamento hegemônico da “cultura” de um tipo de universalismo catalisador de recursos públicos, saques e opressão às sociedades.
O que os neocons não esperavam era a reação da sociedade. Mergulhados como avestruzes, suas cabeças estão atoladas no pântano, no lamaçal da onipotência da grande mídia, porém os tempos são outros. Os afortunados estão vendo em ruínas seus poderes financeiros e de controle da comunicação, pela força do contraditório, da reação popular.
Provavelmente, desavisados de uma revolução com velocidade capaz de dar um jab nos mastodontes, uma bobagem dita em rede nacional ou em editoriais dos grandes jornais, hoje recebem instantaneamente uma reação espetacular de milhares de pessoas dentro da rede, em blogs, sites e etc.
Eles não levarão na força, não continuarão com o jogo intimidatório, pois receberão cada vez mais o repúdio da sociedade que está acordada e usando a comunicação em rede como sua principal arma revolucionária.
Carlos Henrique Machado Freitas
Cabe ao governo, através do MinC grifar essa revolução, seguir os caminhos dessa procissão que carrega o andor da liberdade.
“Estamos convencidos de que a mudança histórica em perspectiva provirá de um movimento de baixo para cima, tendo como atores principais os países subdesenvolvidos e não os países ricos; os deserdados e os pobres e não os opulentos e outras classes obesas; o indivíduo liberado partícipe das novas massas e não o homem acorrentado; o pensamento livre e não o discurso único. Os pobres não se entregam e descobrem a cada dia formas inéditas de trabalho e de luta; a semente do entendimento já está plantada e o passo seguinte é o seu florescimento em atitudes de inconformidade e, talvez, rebeldia.”
Milton Santos em Por Uma Outra Globalização - Do Pensamento Único à Consciência Universal.
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