segunda-feira, 26 de abril de 2010

CUFA Araguari vai participar das programações do Dia do Trabalhador


Entrega dos ingressos pela Ludmila, representando a Secretária de Trabalho e Ação social.

Foi repassado ao coordenador geral da CUFA Araguari, 100 ingressos para o show de Marco e Mário, que acontecerá dia 01 de maio, pelas comemorações do dia do trabalho no Parque de Exposições Rondon Pacheco. O ingresso deveria ser trocado por um quilo de alimento não perecível, mas no entendimento dos realizadores, há pessoas que gostariam de participar mas que não tem o alimento para trocar, pelo contrário necessita desse alimento para a sobrevivência e como a CUFA tem uma grande representatividade entre os moradores menos favorecidos da periferia, esse ingresso, após uma triagem será doado para que todos possam ter acesso ao show, que está sendo realizado em parceria entre o SESI, Fundação Araguarina de Educação e Cultura, Secretaria Municipal de Trabalho e Ação Social, Rádio Regional FM e Empresa Arroz Vasconcelos. Na oportunidade da entrega, foi sugerido pelo coordenador da CUFA Agnaldo Zulu; ao responsável pela FAEC, Leonardo de Melo; a possibilidade de apresentação de elementos da cultura hip hop, antes do show e ainda a abertura de um outro edital da Lei Municipal de Incentivo á Cultura, considerando que o do ano passado, não teve projetos aprovados o suficiente que atendesse a demanda do valor que foi disponibilizado pelo Fundo Municipal de Cultura e para discutir tal assunto, o Presidente da FAEC, foi convidado a participar da próxima reunião da CUFA Araguari, que acontece amanhã(26/04) no Centro de Referência Negra Rainha Benedita Gonçalves, ás 20:00 horas.


Reunião com os organizadores do evento

terça-feira, 20 de abril de 2010

Conheça os artigos produzidos pelos Colunistas da CUFA



A seção de Colunistas do portal da CUFA esta com novos artigos. O fato é que membros da organização estão produzindo semanalmente textos com o mais variados temas que vão desde opiniões sobre o meio ambiente, questões raciais, e até maioridades penal, e que têm tudo ver com o cotidiano dos Cufistas. A idéia é que estes expressem um pouco daquilo que a CUFA pensa, sente e percebe.

Confira os artigos publicados recentemente:

Ederson Deka – CUFA MT
Título: O Retorno é possivel

Francisco José Pereira (Preto Zezé) – CUFA CE
Título: O Protocolo da Favela

Manoel Soares – CUFA RS
Título: Coração Maduro

Giovanni Nobile Dias – CUFA Paraná
Título: Disputa


Ou pelo LINK ABAIXO:


http://cufamatogrosso.wordpress.com/2010/04/20/conheca-os-artigos-produzidos-pelos-colunistas-da-cufa/

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Vice Prefeito de Araguari visita o Capocufa


O Vice Prefeito Júberson dos Santos Melo, visitou hoje o Projeto Cultural Africapoeira, desenvolvido pelo núcleo capocufa da CUFA Araguari, no CAIC Dr Arcino Santos Laureano. O projeto já existe ha vários anos e consiste em aulas de capoeira disponibilizadas gratuitamente ás crianças e adolescentes do entorno do Bairro Independência. A única exigência, é que o participante esteja matriculado em alguma escola e que tenha bons resultados na aula regular. No ano passado, o projeto recebeu do Fundo Estadual de Cultura do Estado de Minas Gerais, um aporte de recursos da ordem de R$55.000,00 o que possibilitou que todas as crianças recebessem gratuitamente uniforme, e o projeto fosse desenvolvido simultaneamente em quatro cidades no Estado: Araguari, Canápolis, Monte Alegre de Minas e Uberaba, com os professores recebendo um valor bruto de R$640,00 mensais. No momento não há ainda nenhum meio de financiamento e o motivo maior da visita, foi exatamente para se aventar a possibilidade.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

“Hoje a lua não brilhou no céu
Hoje meu berimbau não tocou
Hoje meu pandeiro está mudo
Hoje meu atabaque não falou...”
Cancioneiro de Capoeira




O anjo da morte tem sido padastro com a nobre arte da capoeira em Araguari, que hoje está de luto, com o falecimento de Luiz Antônio Gomes dos Santos, o Professor Quim. Durante sua vida inteira de capoeira, dedicou-se ao projeto social que assistia crianças na Associação dos Moradores do Bairro Ouro Verde.
O desencarno é uma conseqüência da vida, porém nas condições em que se deu, leva-nos a crer que algo “misterioso” aconteceu. Ele sentiu os sintomas de um enfarto do miocárdio, foi ao Pronto Socorro Municipal, quem o atendeu foi avisado dos sintomas e ainda assim o obrigou a sair e aguardar do lado de fora. Ele entra no carro que ele próprio fora dirigindo, começa a urrar de dor, os alunos em desespero entram no local para pegar uma maca e ao retornar ao carro, e pasmem, na porta do Pronto Socorro, encontram o Professor Quim, já sem vida...
O fato nos leva a pensar na vida, tanto de quem cuida, quanto de quem não se cuida, quanto de quem é cuidado, enquanto mais uma vida é ceifada, sabe lá Deus, se por negligência.
O certo é que nossas rodas de capoeira a partir de agora fica um pouco mais incompleta. Soma-se só nos últimos meses a partida do Contra Mestre Duro na Queda, do Mestrando Léo Bombeiro, e agora, do Professor Quim.
Que os inúmeros alunos deixados por ele possam perpetuar sua obra. Exemplo de dignidade, humildade e de trabalho em prol da capoeira. Que Deus do alto de sua misericórdia, possa confortar o coração dos familiares, recebendo-o na roda do céu, onde já habitam outros tantos consagrados da capoeiragem, que com certeza mesmo nos impregnando de infindas saudades, com certeza não morreram, simplesmente tombaram pra imortalidade.
Badem Powell, dizia “...que devemos sempre fazer algo de bom em vida, para que possamos ser lembrados após a nossa morte...”
Então, que assim o seja.

Mestre ZULU - Capoeirista

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Conferência Municipal do Esporte

A Prefeitura, por meio da Secretaria Municipal de Esportes e Lazer, realizou no dia 09 de abril, a etapa de Araguari, da 3ª Conferência Nacional do Esporte. O evento, aconteceu no anfiteatro da Superintendência de Água e Esgoto, sito á Rua Hugo Alessi, 50 - Bairro Goiás. Durante o evento foram elaboradas, debatidas e aprovadas propostas para o Plano Decenal do Esporte e Lazer, com linhas estratégicas, ações, metas, responsáveis e prazos, visando ao desenvolvimento do esporte e do lazer no Brasil.
Durante todo o dia, foram discutidos temas como sistema nacional de esporte e lazer, formação e valorização profissional, esporte lazer e educação, saúde e qualidade de vida, ciência tecnologia e inovação, esporte de alto rendimento, futebol, financiamento do esporte, e infra estrutura esportiva e economia.
Dos seis delegados eleitos que representarão a Cidade na Conferência Estadual, a ser realizada de 5 a 7 de maio em Belo Horizonte, três são da CUFA Araguari: Zulu, coordenador geral; Bruno, coordenador de produção e o Professor Zorro, coordenador do capocufa. A inclusão do basquete de rua e o retorno da capoeira aos JIMIs - Jogos do Interior de Minas, foram algumas das propostas apresentadas pela CUFA Araguari e aprovadas na plenária final da Conferência.


Agnaldo Zulu, Coordenador Geral da Cufa Araguari, compondo a mesa de abertura da conferência, juntamente com a coordenadora do curso de educação física da UNIPAC, Prof. Dra. Kelly Godoy; o Vice Prefeito Juberson Melo; o Secretário de Esportes Horácio Nascimento e os palestrantes Prof. Ms Carivan Cordeiro e o árbitro da FMF, Alício Pena Jr.


Público presente na conferância

Núcleo LGBTT da CUFA Araguari, Promove Festa, Visando Respeito á Diversidade

"Art.5o – Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes (...)".

Prevê a Carta Magna Brasileira, que todos os homens são iguais perante a lei, porém devido ao preconceito, isso nem sempre se aplica á Comunidade LGBTT que tem seus direitos desrespeitados cotidianamente no Brasil. Muito tem-se feito, porém ainda caminha-se a passos lentos quando o assunto é reconhecimento dos direitos homoafetivos, que socialmente já é um fato, mas legalmente ainda encontra muitas resistências. Um exemplo claro é o PL 122, que tramita interminavelmente no Congresso Nacional, sem nunca chegar a lugar nenhum devido a escancarada oposição da bancada católica e evangélica da casa.
Os homossexuais brasileiros são titulares de direitos inalienáveis, cumpridores das leis, eleitores e contribuintes de impostos. Entretanto, mesmo assim ainda são vistos como cidadãos de segunda categoria, não possuindo ainda proteção legal para suas relações de afeto, como é garantida aos demais brasileiros. Seu único amparo estatal tem-se limitado a decisões favoráveis após longas e exaustivas batalhas judiciais.
Diante disso, hoje existe uma tendência a vislumbrar as uniões homossexuais cada vez mais nos moldes da união estável (Lei 9.278/96), por existirem semelhanças evidentes, uma vez que ambas as relações se baseiam em afeto e não são formalizadas, existindo uma relação de amor comum entre os parceiros, como também as dificuldades impostas pela sociedade e sofridas pelas famílias homossexuais, tal como ocorria com os concubinos e que hoje são amparados pela lei.
Buscando a igualdade de direitos o núcleo LGBTT da Cufa Araguari, não se priva de sua responsabilidade social e através de palestras, apresentações, mesas redondas, encontros sociais tenta o reconhecimento das muitas relações homoafetivas existentes
na cidade e sonha sem utopia, com o dia que há de acabar a homofobia no Brasil.
Nessa vertente, foi realizado neste sábado(10/04) a festa Paparazzi, com uma grande participação da comunidade, parentes e simpatizantes da causa, visando combater o preconceito tão introjectado no seio de nossa sociedade. Confira aqui algumas fotos.






Elbson Luis - Coordenador do Núcleo LGBTT, da CUFA Araguari


Com participação de grande público hétero, o respeito á diversidade foi a palavra de ordem


Show da drag Aysla Desejo

Araguari Cria Núcleo Capocufa


Os primórdios da capoeira, datam de mais de 300 anos. Criada no Brasil, durante o periodo escravocrata pelo desejo de libertação do negro escravo; fez do corpo, arma e do berimbau, alimento-música da alma dos seus praticantes. Sobreviveu ao decreto presidencial 487, de 11 de outubro 1899, que determinava que a partir daquela data, qualquer capoeirista que fosse pego praticando, ensinando ou aprendendo a nobre arte, seria preso e desterrado pra Ilha de Fernado de Noronha. Fez heróis Besouro Preto, Manduca da Praia e Nascimento Grande e ressurge na década de 30, nos mocambos do Recife, nos morros do Rio de janeiro, nas ladeiras de Salvador e dali para o mundo. Hoje, presente em mais de 70 países, é a maior embaixatriz do Brasil no exterior, onde para a prática é obrigatória o uso da lingua mãe, o português falado no Brasil, para pronúncia das ladainhas. Com cinco milhões de praticantes no Brasil, só perde para o futebol em números.
Em Araguari, teve seus primeiros praticantes na década de 70, com o lendário Mestre Caboclo, que negativamente projetou-á como nódoa no seio da sociedade araguarina e ainda hoje tem seu nome escrito nas paredes da cadeia pública, onde ia e voltava com certa facilidade, em decorrência da marginalidade vivida o que o levou a morte á facadas, por problemas familiares. Vindo de Goiânia, Mestre Moreno, da mesma escola porém com uma visão mais centrada continua o trabalho do antecessor e paralelo ainda temos informação de outros como Mestres: Capitão, Raposa e Curió. Dessa geração, apesar de todos vivos, ninguém está em atividade. A continuidade do trabalho deu-se com um grande aluno do Mestre Moreno, que hoje é o Coordenador da CUFA Araguari, Mestre Zulu. Formado em outubro de 1997, pela Associação Brasileira de Capoeira foi quem alavancou a capoeira na cidade, colocou-a como modalidade competitiva nos JIMIs-Jogos do Interior de Minas, participou ativamente da realização dos dois congressos brasileiros e hoje participa da campanha nacional de valorização e regulamentação da profissão do professor de capoeira. Em decorrência das múltiplas atividades á frente da CUFA Araguari, seu aluno Professor Zorro, é quem coordena hoje suas aulas de capoeira e consequentemente o núcleo capocufa na cidade.
Neste último sábado(10/04), aconteceu mais uma roda do mercado municipal e o diferencial foi que a já tradicional roda que encantou e encanta várias gerações de jovens capoeira, por entendimento de todos os seus participantes, passou a denominar-se Roda da Capocufa num dia de muita festa e alegria pra capoeira na cidade. Estiveram presentes vários grupos e seus dirigentes como: Mestre Paturi, Professor Chaminé; Intrutores Meio Kilo, Raça, Gafanhoto(Monte Alegre de Minas), Princesa, Pedra do Mar, Sossêgo entre outros graduados.

Professor Zorro e Mestre Paturi na roda da capocufa


Coordenadores da CUFA Araguari, prestigiando o evento. Da esquerda pra direita: Elbson, coordenador do núcleo LGBTT; Danilo, coordenador cultural e Professor Zorro, coordenador do capocufa.

Mais fotos podem ser conferidas no Orkut http://www.orkut.com.br/Main#Album?uid=10774467201436017404&aid=1271016946

CUFA Araguari, realiza mais uma edição do Projeto Rua de Lazer, no Bairro Novo Horizonte


Agnaldo Zulu, discursando na tribuna da Câmara Municipal

Na terça feira, a convite do Vereador Raul Belém, o Coordenador Geral da CUFA Araguari Agnaldo Zulu, usou a tribuna da Câmara Municipal para discorrer sobre o "Projeto Ruas de Lazer" que concorre ao Prêmio Cultura e Saúde. O projeto funciona da seguinte forma: mapeamos a Cidade e escolhemos uma rua que possua um local que ofereça aos usuários, condições de higienização(banheiros), água potável e uma fonte de energia onde possamos ligar o sistema de som(normalmente uma escola, posto de saúde ou similar). Oficializamos o pedido do local e solicitamos no Departamento Municipal de Trânsito o fechamento da rua previamente escolhida e pra lá levamos através das diversas coordenações da CUFA Araguari e das parcerias desenvolvidas, música, teatro, dança, roda de capoeira, tabela de basquete de rua, a pista de skate, além de serviços básicos de saúde como: auferição de pressão, exames de glicemia e diabetes, vacinação; material informativo sobre DST/AIDS, controle da dengue, inconveniências do uso de bebidas alcoólicas, drogas lícitas e ilícitas, palestras, mesas redondas, assistência jurídica e atividade física(alongamentos). O público presente é atendido gratuitamente e indistintamente pelo projeto, de crianças á experientes senhores numa média entre 1000 a 2000 pessoas a cada edição do projeto, que é rotativo nos bairros e distritos da Cidade e acontece todo segundo sábado de cada mês.
"A função da CUFA Araguari, através do 'Projeto Ruas de Lazer' é fazer com que a periferia se torne protagonista de sua própria história, possibilitando a ascensão da cultura de rua e criando meios para que a capoeira, o hip hop, o skate, o basquete de rua, possam agregar valores á vida dos jovens como referência na construção de sua identidade, fazendo com que assim como a CUFA, se tornem reais veículos de transformação, conscientes portadores de direitos reconhecidos pela sociedade.
Segue algumas fotos da última edição do projeto, realizado neste domingo (11/04/10) no Bairro Novo Horizonte. O pessoal do 11º Batalhão de Engenharia de Construção(exército), montou tenda e fez auferição de pressão e pequenos exames; a Defensoria Pública, prestou assessoria jurídica gratuita; o Projeto Ágape e a Associação Amarração cederam o sistema de som. O ponto alto das apresentações, foi o show dos cães amestrados da 2ª Cia de operações especiais da polícia e a participação da co-irmã, a CUFA de Uberlândia.


Pessoal da área de saúde do 11º Batalhão de Engenharia de Construção, realizando auferição de pressão e pequenos exames.


Defensoria Pública, prestando assessoria jurídica gratuita.


Tenda utilizada para apresentações culturais.


Grafiteiros CUFA Araguari


Apresentação dos cães amestrados da 2ª Cia de Operações Especiais da polícia.

Mais fotos no Orkut http://www.orkut.com.br/Main#Album?uid=10774467201436017404&aid=1271001108

domingo, 4 de abril de 2010

COTAS RACIAIS


Ao assistir um debate na TV bandeirantes, senti a necessidade de expor minha visão tanto sobre a estrutura do debate, como sobre seu conteúdo, mesmo que o primeiro esteja estratégica e intimamente ligado ao segundo. Mas para meros fins de exposição, começo pela estruturação da mesa. Antes de tudo, é preciso ser dito que não dá para ir a debates sobre o tema das cotas raciais, apenas porque fomos convidados, é preciso estabelecer regras, se não vamos ficar nesse debate como um leão na jaula, sendo instigado por vários caçadores. Era esse o sentimento que eu tinha ao ver esse debate. Defendendo as cotas raciais estava o respeitável e amigo Frei Davi, do outro lado, contra as cotas, estava toda a TV Bandeirantes, todos os jornalistas que compunham a mesa e mais o sociólogo Demétrio Magnoli, por quem tenho grande admiração e respeito. O fato é que, o que devia ser um debate de idéias virou uma tentativa de constrangimento ao nosso amigo Frei Davi. De imediato eu “imaginei ” como pode ter sido feito o convite:

- Alô, senhor Frei Davi?
- Sim, é ele.
- Como vai, sou fulano, produtor da TV bandeirantes, queremos fazer uma discussão sobre cotas num programa de relevante audiência e queremos convidar o senhor por ser um militante da causa e ser muito respeitado.
- Sim, claro que vou.

E não só foi, como mandou muito bem. Porém, acho importante que pessoas que lutam pela causa tenham em mente que é preciso aceitar tais convites mediante o estabelecendo condições. É necessário esse senso de responsabilidade, porque do contrário fica uma misto de desrespeito com manipulação que fica até agressivo ao espectador, o que deveria ser uma preocupação da emissora, mas não o é, e assim, o único defensor do tema pode acabar ficando colocado como alguém apenas pautado pela indignação, que é calculadamente provocada, é lógico.

Vamos ao conteúdo do debate, que tem como pano de fundo a substituição dos atuais programas sobre cotas, por um programas unificado que vem sendo discutido no congresso nacional, que colocaria 50% de cotas em todas as universidades públicas do país, mas sem divisão por segmentos. Discussão essa que é praticamente desconhecida do grande público, por mim inclusive, mas vamos escurecer um pouco a questão.

Com os programas de cotas, descobriu-se que nas universidades públicas entra uma grande porcentagem de alunos das escolas públicas: entre 30% e 40%, mas em quais cursos? Naqueles considerados “pouco nobres” como Pedagogia, História, Geografia, etc. Dificilmente entra aluno pobre ou negro pobre nos cursos considerados “nobres” como (direito, medicina, odontologia, etc.). Apenas para não dar margem a distorções tão comuns quando se trata deste assunto, cabe ressaltar que não faço juízo de valor dos cursos, utilizo apenas expressões do dia-a-dia de todos nós. Todas as profissões e formações devem ser valorizadas, inclusive aquelas que não necessitam de um canudo para afirmá-la. Bem, mas onde de fato se incluiu negros e pobres foi onde houve a separação entre as cotas raciais e sociais, e não apenas com as cotas sociais, como muitos querem afirmar, sob o argumento de que o problema no Brasil é social e não racial. Amigos, os problemas no Brasil são todos os problemas! Cito exemplos: Na UFPR (Universidade Federal do Paraná) que optou por cotas específicas, sociais e raciais, nesse ano entraram entre 15 e 20 alunos negros nos cursos considerados “nobres”. Ao todo, desde 2005 são aproximadamente 100 a 130 alunos negros e pobres nesses cursos. A universidade pratica a seguinte política de inclusão: 20% para cotas raciais, 20% para sociais e reserva de vagas para indígenas e 60% para o geral. As vagas que sobram das cotas (e sempre sobram nas cotas raciais, nas sociais não) retornam para o geral. Ou seja, sempre tem mais de 60% de vagas para o geral.

Sou radicalmente contra as cotas, tanto quanto meu amigo e ídolo Caetano Veloso e outros amigos e amigas que também o são. Vivemos numa democracia, não podemos patrulhar a opinião dessas pessoas, e o fato de discordar delas não altera nosso valor, assim como também não acontece com eles que discordam de nós. Mas a luta tem sido sim convencê-los do contrário, e quantos deles já foram capazes de perceber o nosso sentimento? Muitos.. Bem, a discordância que tenho deles se relaciona apenas com os passos que precisam ser dados para que haja algum grau de paridade entre a formação e inserção dos negros na sociedade.

Pra mim é inconcebível que nós, chamados de mestiços como todos brasileiros o são, mas que temos na pela a cor preta, e não a branca, fiquemos esperando passivamente as soluções chegarem. Já esperamos muito, estamos esperando desde 1888, e as soluções não chegaram, se não botarmos o pé na porta, incomodando e criando desafetos pelo caminho, o que será inevitável, podem ter certeza de que elas não vão chegar nunca. A educação igual para todos, que seria o caminho ideal, parece que não chegará nunca.

Os que se dizem contra as cotas acham que o caminho é exatamente esse, continuarmos a esperar que haja uma reformulação no ensino de base para que nossa juventude preta, que de acordo com todas as estatísticas são os que sempre estão à margem (lideram as taxas de desemprego, presidiários, mortalidade urbana, salários mais baixos etc.), tenha só aí a chance de concorrer em paridade com os filhos da elite em busca de uma formação qualificada. Cabe dizer que, em sua esmagadora maioria, essa elite de hoje tem o mesmo perfil desde 1888, ou seja são brancos de boa fé e muito bem intencionados. E nada mais natural que o sejam, já que apenas fizeram perpetuar a riqueza e o domínio, sem querer abrir mão de nada, o que é, repito, natural, para eles. No entanto, finalmente a sociedade brasileira chegou num estágio de ir contra a essa naturalidade, de manutenção de tudo como sempre foi, com a felicidade parecendo caminhar apenas para os braços de uma parcela da sociedade cuja a cor é “por acaso” clara.

Estão sendo pensadas e praticadas formas concretas de reparar uma política social que anteriormente se pautou sim pelo recorte racial, mas que agora, quando deseja fazer o mesmo para possibilitar a ascensão do negro, aí os inconformados não aceitam e gritam, ou organizam debates democráticos como esses, que além de estratégicos, seriam engraçados, se não fosse um fato trágico para nós.

No entanto, se estes senhores estivessem um pouco mais atentos veriam que se não abrirem as cotas agora, elas serão invariavelmente buscadas de outras formas, que podem ser mais dolorosas. Os números crescentes da violência provam isso. Quem mais mata no Brasil? São os jovens negros, fruto do acaso? Não, é apenas a ordem natural dessa pressão imposta carinhosamente em nome de uma suposta democracia racial. Os jovens pretos, “fudidos” não aceitam que somente os filhos de uma classe pode ser feliz, eles também querem consumir, também são atingidos pelo apelo publicitário ininterrupto que vende sonhos, amor, felicidade, e eles querem isso também, querem fazer parte dessa classe, querem ter acesso a essa cota universitária que estabelece que só os brancos tenham vez. Ou seja, as cotas já existem, estamos só tentando ser incluídos nelas, pois acreditamos que temos direito, e temos mesmo, ou não? Então, as cotas podem acirrar os ânimos, mas a falta das cotas também vai acirrar, pois a negrada tá de saco cheio dessa conversa antropológica de conglomerado de mídia que transbordam democraticamente todos os dias suas posições de que a política de cotas é um câncer social, talvez seja, mas para quem está agonizando no CTI e nunca teve nada, qual a diferença?

Não acho que as pessoas que defendam a permanência da espera sejam “do mal”, acho que elas simplesmente vêem a vida por outra lógica, que é muito distante da que eu vejo, tanto que hoje recebi um e-mail de um deputado respeitável e muito humano, criticando as cotas, dizendo que somos um país multicolorido e feliz, que se as cotas específicas forem ampliadas e não reformuladas, pela primeira vez teremos preconceito racial no Brasil. Ou seja, não posso crer que ele seja mal intencionado, mas apenas que se comporta com alguém insensível, nada mais.

Ratifico que sou totalmente contra as cotas, mas enquanto ninguém vier com uma solução, ou mesmo com um paliativo, eu só posso crer que a política de cotas é a única alternativa para quem está na parte baixa dessa roda gigante enferrujada. Ela não vai rodar se ficarmos esperando que o modelo social e econômico seja justo e repare o processo anterior de injustiça social e racial. Se isso não foi feito até hoje, não há quem me faça crer que será diferente em algum dia, tal discurso, aliás, só me faz crer no contrário.

Nessa discussão, há aqueles que dizem que o conceito de raça foi cientificamente superado e que a luta deve ser por uma sociedade pós-racial. Eu acho lindo isso, de verdade, seria lindo que eu não precisasse estar aqui escrevendo sobre isso, por acreditar que todos somos iguais e que só existe uma raça, a humana. Lindo! Mas mesmo os que levantam essa bandeira, sabem (ou vêem) que a maioria dos meninos de rua, daqueles que moram em condições precárias em favelas e periferias, dos que recebem os salários mais baixos e as funções e menos qualificadas são os negros. E pra mim fica nítido que isso é fruto direto de séculos de escolhas políticas, que me fazem ver todos os dias que uns são mais iguais que outros.

Se a questão passa pelo uso da palavra “raça”, que deveria ser substituída por etnia ou outra similar, ai eu nem começo a conversa, porque não é discussão de termos teóricos que me interessa e sim a resolução de uma situação com a qual convivo desde sempre, na prática, na pele e não no plano teórico. Seja usado o termo que for, o que os intelectuais considerem mais adequado, isso eu não discuto, concordo com todos que quiserem usar, o fato é que todos os anos o IBGE nos mostra que quem ocupa as posições inferiores em todos os índices são os negros e não os multicoloridos, proponho inclusive que esses gigantes processem o IBGE ou não aceitem divulgar suas pesquisas. E não sei se estão lembrados mas a era pós-racial, que tanto louvam e que Obama seria o auto-representante legítimo, só aconteceu nos EUA depois de anos de luta dos negros, que buscaram inserção e não ficaram esperando que os modelos sociais os contemplassem algum dia. Eu nem queria lembrar isso para não ser acusado de querer imitar os norte-americanos, até porque não se trata disso, só estou usando os exemplos usados pelos próprios anti-cotistas.

Hoje vi na televisão que um negro deve assumir a direção da NASA, e que será o primeiro negro a assumir tal papel. Nesses momentos, tem negro. Nenhuma emissora de TV diz “Um multicolorido, um mestiço, vai assumir a NASA”. Porque sabem identificar muito bem, quando querem, os negros. Nesse caso, ainda bem, é para algo muito positivo, porém, quando falam que agora é o primeiro negro, isso significa que o “homem” já foi, agora é o negro, então mais uma vez sugiro que essas emissoras e veículos não façam menção a esse detalhe irrelevante, já que todos somos humanos. Vejam, não tem nada de sofrido nesse discurso, só quero propor uma reflexão sobre o tema que é muito polêmico mesmo.

Não sou defensor da política racial americana, do apartheid ou mesmo do antagonismo entre brancos e negros, não busco revanchismo, preconceito ao contrário, ou o que possa ter ligação com essa idéia, mas o fato é que, sobretudo, não quero a manutenção do preconceito atual, e se nada de concreto e imediato for feito para possibilitar que o negro ascenda socialmente, continuaremos sempre nos vangloriando de nosso país mestiço, da mistura e da convivência pacífica entre cidadãos de todas as cores, mas na hora que cada um for pra sua casa, alguém sempre vai entrar no seu carro, buzinar pro porteiro do condomínio e subir de elevador, e esse “alguém” continuará a não ser o negro. Se nada for feito, as estatísticas do IBGE continuarão tendo no topo da pirâmide os brancos e na base os pretos. Eu não quero a inversão disso, quero, ao menos, a possibilidade de que seja formada uma outra figura geométrica, em que eu veja que não apenas poucos (em sua maioria branca) sejam os privilegiados em todos os índices, e que tantos na base (imensamente de negros) sejam os miseráveis.

Os que vivem da explanação teórica da discussão, escrevendo livros (lembro que Bill e eu somos os negros que mais venderam livros no Brasil, já que o Brasil considera o Machado de Assim mulato, como praticamente todos os livros de literatura o definem. Mas como o conceito literário não se aplica a nós, somos processados por apologia ao crime por esta obra. E se escrevêssemos livros sobre facções criminosas como PCC ou Comando Vermelho estaríamos presos hoje? Mas isso não é preconceito, de forma nenhuma, é a regra do sistema que pensa todos como iguais) formatando debates ou sendo “a voz” do especialista sobre o tema quando alguma TV o convida para o comentário do tele-jornal, me parecem viver em outro país que não o que vivo. Pois para algumas destas pessoas, o fato de termos todas as gradações de tonalidade de pele no Brasil, sem que haja “conflito”, parece que automaticamente exclui a possibilidade de haver racismo. Não entendo como isso pode ocorrer, não entendo mesmo, e, sobretudo, não entendo que suas argumentações contra as cotas partam do princípio que, com elas, estaríamos instituindo a discriminação, que, de acordo com seus pontos de vista, nunca fez parte da sociedade brasileira.

Como já disse, acho natural que cada um defenda o que acredita, utilizando os argumentos que têm pra isso, seja um debate na televisão ou uma coluna no jornal, mas como não quero acreditar que os senhores que o fazem tenham a intenção de ofender a inteligência do público, colocarei dessa forma: não vamos brincar de mentir, senhores! Não vamos negar o racismo que sempre existiu e que existe em nosso país. Daqui a pouco, estarão negando que no Brasil o racismo era política oficial de governo, vão negar inclusive a escravidão, o que por sua vez, está na origem de tudo o que vem sendo discutido hoje.

Quem tem a tonalidade de pele preta sabe com absoluta certeza que há preconceito racial sim, e não é preciso grande esforço para provar isso. O ato corriqueiro de entrar numa loja, que nem precisa ser de padrão tão alto, revela na quase totalidade das vezes, uma diferença mais do que visível por parte do tratamento dos vendedores, se esse cliente for branco ou for negro. Essa convivência pacífica, tão festejada pelos sociólogos, antropólogos e demais acadêmicos distraídos contém o racismo velado, à moda do homem cordial brasileiro, que fica nas entrelinhas, e que, justamente por isso, é o mais difícil de ser combatido. Se com as cotas o preconceito “aparecer”, garanto aos senhores que para nós não será muito diferente do que já é, e acho que vale a pena comprar o pacote, já que dessa vez viria algo de bom, com mais negros pelos corredores das faculdades federais, dentro das salas dos cursos nobres. Ainda que no início eles cheguem de ônibus ou trem enquanto a maioria dos alunos estaciona seus carros importados dentro do campus das faculdades federais, eu compro o pacote! Preconceito todos nós já sabemos o que é, podendo enfrentá-lo ou não (pois quando um currículo é descartado por ter uma foto 3×4 de um negro, esse nem ao menos pode se colocar diante de uma entrevista), portanto, não tememos que ele “surja” com as cotas. Entendo que os senhores e senhoras temam, porque não sentem, não passam, não vivem e imagino que achem um absurdo o que estou escrevendo. Fico feliz por essa preocupação dos senhores pelo Brasil ou talvez pelos seus filhos, só que é bom lembrar que somos brasileiros e também temos os nossos filhos, e as nossas preocupações.

Além destes que negam a existência do racismo, há outros mais realistas, que acreditam que haja o preconceito racial, mas não admitem que nenhum conhecido seu seja racista. Eles próprios então, de maneira nenhuma. Outro dia num debate, o Preto Zezé, o coordenador internacional da CUFA, perguntou a platéia branca que discutia o racismo: - Quem acredita que existe preconceito racial no Brasil? Todos levantaram o braço, todos e todas. Em seguida, ele perguntou: – Quem aqui é racista? E, lógico, ninguém levantou a mão. Racista são os outros, eu não. Infelizmente amigos, sociedade pós-racial, é utopia. Me emociono ao ver Obama falar, mas sei que ainda estamos longe do sonho de Luther King atingir a maior parte dos negros. We can, but isn’t gonna be that easy. E aqui, na terra da tolerância e do racismo velado que não mostra a cara para que possamos reagir a ele, será mais difícil ainda.

Bem, volto a dizer que no geral sou contra as cotas e todos os negros que conheço também são, mas enquanto elas forem necessárias como reparo de injustiças históricas e não me apresentarem outro mecanismo real e factível de inserção dos negros na sociedade, sou a favor. Para finalizar, quero dizer que todos os negros do Brasil apontam apenas uma emissora de televisão como protagonista de uma postura anti-cotas, e isso não é verdade, neste caso, a Band representou e muito bem a classe que é sua base, colocando inclusive estrategicamente imagens de negros dando depoimentos a favor das cotas e depois contra as cotas, com uma edição impecável, reproduzindo a lógica antiga de expor publicamente nossas “contradições”, até ai foram perfeitos, só não nos convenceram, assim como o choro dos grileiros não nos convencem ao jurar amor pela reforma agrária e pelos bóias-fria. O fato é que todos os conglomerados de mídia, de todas as tendências pensam da mesma forma, quando se tratam das cotas para negros. Só falei da Band porque foi lá que eu vi o Frei pagar seus pecados e em alguns momentos ser desrespeitado, mas não é só lá, se uma coisa está unindo a parte alta da pirâmide desse país é esse susto que vai virar realidade.
Amigos não tem jeito, a fraternidade e o amor haverá de prevalecer, e acreditamos que ou vocês vão nos convencer que as cotas são um mal para a sociedade, ou então vamos convencê-los de que é a nossa saída, pois uma única coisa é certa, ou dividimos todas as oportunidades e riqueza que esse país gera ou seremos obrigados a continuar dividindo as consequências da miséria que geramos. Ou nos dêem as cotas, ou paguemos a conta.

Celso Athayde é um produtor brasileiro, idealizador do Prêmio Hutúz e co-autor dos livros Falcão - Mulheres e o tráfico (2007), Falcão - Meninos do Tráfico e Cabeça de Porco e Secretário Geral da CUFA - Central Única das Favelas