Por
Marco Túlio Nascimento*
A Central Única das Favelas (CUFA) lançou dia 3 de abril, o programa “Mães da Favela”. O objetivo é auxiliar mães solo moradoras de favelas de 26 estados e do Distrito Federal que estão sendo fortemente atingidas pelos reflexos do Coronavírus (Covid-19). O programa social faz parte do projeto “CUFA Contra o Vírus”.
“A CUFA já entregou mais 100 toneladas de alimentos em todo o Brasil. Durante essa entrega, suas lideranças e voluntários ouviram que muitas mulheres precisavam de auxílio para comprar não só alimentos, mas também remédios e gás. Logo, a organização decidiu ajudar financeiramente para que possam escolher os itens que precisam”, conta Celso Athayde, fundador da CUFA.
Neste primeiro momento, a CUFA destinará uma bolsa de R$ 120, chamada “Vale Mãe”, durante dois meses para 20 mil mães, via aplicativo PicPay, totalizando 40 mil vales a serem distribuídos. O primeiro repasse aconteceu ontem, 15 de abril e o próximo será dia 15 de maio. “As doações são recebidas através do site oficial do programa e do app. Quem quiser doar, seja pessoa física ou jurídica, transfere da sua conta na plataforma para a conta da CUFA. Nós recebemos e fazemos a distribuição para as mães que estão mais vulneráveis entre os vulneráveis ”, explica Athayde.
Para assegurar a transparência do processo, haverá um contador de entrada de recursos na página do site e uma auditoria externa, feita pela Proaudit. A Idtech Acesso Digital auxiliará o cadastro das mães com a tecnologia de reconhecimento facial, garantindo que elas serão as reais beneficiárias. A escolha das mães fica a cargo das lideranças das CUFAs nos estados, entidades responsáveis pela identificação daquelas que demandam maior auxílio para criar e sustentar os seus filhos.
“Temos milhões de mulheres que estão desamparadas por todo o Brasil, sem condições de colocar dinheiro em casa por conta do isolamento. Faremos o máximo possível para atenuarmos as suas dificuldades tendo em vista que 50% dos lares são chefiados por mães”, ressalta Athayde.
O programa conta também com dois institutos importantes para medir o impacto da ação: O Instituto Locomotiva e Data Favela, o primeiro presidido por Renato Meirelles, e o segundo, fundado também por Renato juntamente com Celso Athayde.
Renato Meirelles, também destaca a importância da ação para os pequenos empreendimentos nas comunidades. “O programa ‘Mães na Favela’ é uma maneira de ajudar as mulheres que colocam o que comer dentro suas casas, além de fortalecer os pequenos comércios nos bairros”, afirma. “As favelas têm mais de 5,2 milhões de mães. São as chefes de família que controlam melhor o orçamento, cuidam das crianças e ainda prezam pela saúde dos idosos que moram em suas casas”, complementa Meirelles.
Pesquisa inédita do Data Favela/Instituto Locomotiva revela que 9 em cada 10 mães mudaram suas rotinas devido ao Coronavírus, sendo que todas afirmam que estão muito preocupadas com o impacto dessa doença. Em relação às questões financeiras, 84% já tiveram a renda diminuída, 87% estão cortando gastos e 73% declaram que não conseguirão manter o padrão de vida por nenhum período se perderem a renda familiar.
Vale ressaltar que
historicamente, em vários momentos do passado em eras sombrias, as camadas
populares formadas pelos mais pobres ficaram de fora dos olhares e das
preocupações reais do Estado. E em outros tempos a inexistência de entidades
com natureza similar a da CUFA, reforçava as duras provações vividas pela gente
comum que luta todos os dias contra as barreiras sociais, sobretudo a maioria
periférica formada por lares liderados por mulheres.
O projeto MÃES DA
FAVELA reconhece duas coisas: a importância de agir em auxílio e fortalecimento
dos lares formados pelos mais humildes na periferia e na favela, e a tenaz
liderança feminina familiar onde as mães
estão na vanguarda, muitas vezes realizando o duplo papel materno e paterno - uma realidade do Brasil dos excluídos.
Em Minas Gerais foram atendidas 700 mães, com o "Vale Mãe", sendo 288 na capital, 87 na região metropolitana, e o restante no interior. A CUFA de Araguari, realizou o cadastro de 45 mães nas seguintes localidades:
Vieno 4
São Sebastião 3
Paraiso 3
Portal de Fátima I 4
Portal de Fátima II 1
Canaã 3
Novo Horizonte 3
Ipês I 3
Ipês II 3
Moriá 4
Alan Kardec 4
Bella Suica I 3
Bella Suiça II 4
Bella Suiça III 3
"Estou desempregada e com 4 filhos, pra mim está sendo de grande importância receber esse benefício, porque não recebo nenhum e considerando que o sustento da minha casa e dos meus filhos é exclusivamente do meu salário, estava totalmente desprovida, então veio em boa hora" Diz Maria Beatriz, moradora da Comunidade do Canaã, beneficiária do projeto.
*Marco Túlio Nascimento é Graduado
em Historia-UFU, Especialista em História e Cultura Afro-brasileira, e
Mestrando em História – UFCAT. É
Professor Efetivo da SEE/MG, Presidente do Conselho de Igualdade Racial
e Diretor Administrativo da CUFA/Araguari-MG